Sobre os melhores do ano, puerpério, livros lidos e um pequeno caos
Um resumo do meu 2023 em um título de newsletter
Estava com dois textos já começados por aqui que, na minha cabeça, até seriam mais profundos que este que, no final das contas, era só uma lista de melhores do ano. Quando dei por mim, entendi que falar das coisas que li era uma forma de relembrar também o que vivi. E então, cá estamos.
Como estou para lançar meu site e meu novo livro, vim não só me adiantar sobre meu recesso (seria meu sonho se fosse de fato um) com essa lista que sempre faço, como de fato compartilhar as minhas coisas favoritas desse ano que foi extremamente difícil, ainda que bonito e inesquecível.
Não fossem os livros, eu não teria nada pra falar. Neste ano, eu vi literalmente QUATRO filmes. Em 2021, eu vi mais de 200, sendo boa parte deles do Mubi, ou seja, é oficial: minha skin cinéfila foi com Deus. Desses 4, apenas 1 foi no cinema (Barbie, na sessão das 13h45, no cochilo da Maria Clara). E desses 4, um deles foi aquela bomba O Lado Bom de Ser Traída, porque eu estava tão, mas tão estressada, que abri a Netflix, cliquei no banner e falei “é isso, quero meu cérebro liso igual um peito de frango". E foi tudo. O filme é péssimo, mas assisti-lo foi maravilhoso.
Desses QUATRO filmes, nenhum deles me marcou, como em 2022, que assisti A Pior Pessoa do Mundo no cinema e senti aquele filme tatuado na minha alma. Foi antes da Maria nascer e às vezes me pergunto se as coisas ainda entrarão tanto em mim depois da avassaladora experiência de se tornar mãe. Tudo fica menor depois que você pare (eu sempre tenho dúvidas sobre a conjugação do verbo parir) e eu ainda não sei se isso é reconfortante ou desesperador. Conto se um dia descobrir.
Mas tudo isso foi para dizer que nesse ano, não vi nada. Mas felizmente, mantive o ritmo das minhas leituras, principalmente depois que terminei A Idiota. Sendo assim, li 24 livros - o mesmo número de 2022, mas que tem muito muito esforço, afinal, foram livros que eu li enquanto criava uma bebê que aprendia a comer, ficar de pé, se comunicar, etc. Ao rever esses livros lidos durante o ano, senti muitas coisas.
O primeiro, "Só Garotos”, da Patti Smith, eu lia antes de dormir, quando Maria Clara tinha dois meses de vida. Meu Deus, que tempos difíceis esses primeiros três meses. Demorei muito pra terminar o livro e atribui essa demora a obra e não ao meu esgotamento mental e físico, ao puerpério, ao coexistir com uma criança. Hoje, com Maria Clara nos seus 14 meses, digo com toda a certeza: nada é tão bonito como ver um ser humano se tornar ele mesmo. E nada é tão maravilhoso quanto recuperar a nossa independência.
O segundo livro que li foi o do padrinho da minha filha, escritor estreante que narrou de um jeito veloz e dolorido (uma coisa meio Irvine Welsh, mas com um ritmo meio Palahniuk, talvez?) a adolescência em São Paulo em seu “Os Dorme Sujo”. Ele é melhor amigo do meu marido desde que eles têm 6 anos e ler aquele livro - que deixou essa pacata menina do interior um tanto quanto chocada - foi como conhecer ainda mais sobre a história do João, ainda que dividida entre três personagens que nos causam várias sensações diferentes: raiva, pena, empatia, nojo, etc. Nada como livros que fazem sentir, né?
Aí veio “Na Sala dos Espelhos”, uma leitura que caiu numa luva enquanto eu ainda lutava para aceitar meu corpo pós-gestação (spoiler: a luta continua, afinal, eu sou mulher rs) e depois “O Acontecimento”, da Annie Ernaux, que acabou comigo. Depois desse, optei por algo leve e foi aí que vieram os outros (Daisy Jones, O Poeta Chileno, Departamento de Especulação). Ver a capa desses livros me deixam numa ansiedade muito estranha porque enquanto eu os lia, não tinha noção do quanto eu estava debilitada emocionalmente. O puerpério é uma experiência que eu não sei descrever, mas tal qual o luto, não é linear. Aliás, acho que o puerpério se assemelha muito ao luto (porque não deixa de ser), com a diferença que no luto você é “permitida” a sofrer. No puerpério não: existe um outro ser humano ali, demandando tudo de você: seu corpo, seu tempo, suas vitaminas.
Foi só depois de "Indomável” que eu acho que “voltei ao normal". Enquanto lia Indomável, grifava frases enlouquecidamente porque eu precisava daquelas doses diárias de conforto que vinham de outra mulher. Eu não sei se agora eu gostaria tanto desse livro, mas no momento em que o li ele foi maravilhoso. Era o que eu precisava e não sabia. Depois, veio o incrível “Aos Prantos no Mercado”, que me deu uma vontade louca de escrever sobre a minha vida — existe um rascunho sobre isso que, embora não seja exatamente um livro, vem sendo uma deliciosa prática para momentos silenciosos.
Aí vieram minhas escolhas erradas que me travaram ao mesmo tempo em que eu entregava o apartamento, tentava desmamar Maria Clara, etc. Louco como essas escolhas conversaram muito com os meus momentos de vida. Luxúria e A Idiota foram livros que comecei com muita expectativa, seja por suas capas bonitas (maldito Instagram) ou pela recomendação de pessoas que admiro. Meu Deus, como eu detestei esses livros e como me odiei por continuar insistindo. No final, terminei os dois na base do ódio e se tem algo que eu preciso colocar em prática na minha vida é a capacidade de desistir de coisas que não me fazem feliz. Eu preciso deixar as coisas irem ao entender que elas não funcionam pra mim.
Depois, só alegria. Assim que finalizei A Idiota, li 7 livros em um mês. Li bons 7 livros em um mês. Me voltou a vontade de escrever. De finalizar projetos. Tirar coisas da minha eterna lista de “um dia". Uma dessas, foi iniciar a Tetralogia Napolitana. Já estou no final de A Amiga Genial e leio todos os dias, antes de dormir. Esses dias eu cochilei e derrubei o Kindle nas costas da minha filha. Felizmente, o Kindle é muito mais leve que o celular.
🏆 Os melhores do ano:
Como avisado, assisti pouquíssimos filmes e aproveito para dizer que também não ouvi nada, nem música e nem podcast. Sendo assim, vou elencar apenas as coisas que eu realmente consumi nesse 2023:
Livros:
Cleopatra e Frankenstein virou meu Império Romano e eu devorei, terminei em sei lá, quatro dias - o que é muito se pensarmos que eu tenho de dois a três empregos, uma criança, uma vida e etc etc. Cheguei atrasada no hype, mas digo com certeza que foi o melhor de 2023.
Menções honrosas: Aos Prantos no Mercado e A Filha Perdida
Aqui, todos os livros que li nesse ano. Falando nisso, vamos ser amigos de Goodreads? Me adiciona lá!
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Série:
Óbvio que Succession, não tem nem como. Mais uma vez com pena de todos os indicados ao Globo de Ouro porque não vai ter pra ninguém.
Menções honrosas: The Bear, Beef e Jury Duty.
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Newsletter:
A minha favorita do ano, a que realmente me faz parar tudo o que estou fazendo para ler, é a Nevoeiro, da Carol Bensimon. O jeito que essa mulher escreve é bonito demais.
Menções honrosas: Cartas a possíveis amigos, do Xerxenesky e Conversas Paralelas, da Ly Takai.
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Meus textos:
Acho que o meu favorito do ano inteiro foi o da edição passada. Eu li e falei “caramba, como LER faz a gente escrever melhor, né?". Então, se você ainda não leu, fica a dica.
Menções honrosas: Sobre a lembrança e sobre a memória, Sobre o luto por alguém que não se foi, mas deixou de existir, Sobre o tempo das flores.
Recados finais
🎄 Então é Natal e o que você fez?
Provavelmente, essa é a última edição do ano. Na próxima semana voltaremos para São Paulo, passaremos as festas por lá e depois irei para o interior e só deus sabe o que virá depois. Então, ficam aqui meus desejos para um 2024 incrível para todos os vocês e espero que possamos continuar juntos no próximo ano.
🔥 Manda texto de agora
Quem me segue no Twitter já deve ter visto que eu lancei uma NowPage na tentativa de finalmente sair daquele umbral. É tipo um blog, tipo um diário, tipo um Twitter, mas algo só meu, com meu domínio e onde atualizo quase diariamente com coisas rápidas e não-revisadas (acha que é só você, Knausgård?). Aqui, vou manter essa qualidade editorial (hmmmm kk), mas lá você realmente vai me encontrar em tempo real. Se quiser espiar, é now.michelecontel.com.
✨ Um café por uma programação especial
Como disse na edição passada, para 2024, vou formatar uma programação especial para meus assinantes pagos — porque sim, agora você pode apoiar minha news por menos de um café de Pinheiros por mês. Vem aí demais, viu?
🔗 Links links links
Todos os textos em cor-de-rosa são links clicáveis. Os links de livros são da minha loja na Amazon e ao comprar por eles, você paga o mesmo valor do site, mas eu ganho uma pequena porcentagem. Aqui, inclusive, separei todos os livros que li neste ano, da ordem do que mais gostei para o que menos. Quem adivinha o que está em último lugar?