Sobre o comeback das manic pixie dream girls
Ontem saiu a confirmação que de que a série foi renovada e decidi tirar esse texto dos rascunhos
É isso, terminei a segunda temporada de The Bear. Achei boa, mas nada comparado ao primor que foi a estreia. Difícil se manter impecável quando você se consolida como uma das Melhores Coisas do Últimos Tempos no Entretenimento de primeira e ganha atenção mundial. Nem todo mundo é Fleabag, que consegue ter uma primeira temporada maravilhosa e ser ainda mais incrível na segunda. Sei disso, mas também sou exigente, chata e com muita disponibilidade para criticar o trabalho criativo alheio. Por isso, entre uma reunião e outra e a criação de um ser humano de 1 ano, cá estou fazendo as vezes de crítica sem nenhum embasamento a não ser meu gosto pessoal.
✨ Cheguei. ✨
Acho que eu tinha muita expectativa para essa segunda temporada de The Bear porque a primeira foi unanimidade. Todo mundo que assistia se sentia na obrigação de recomendar porque sabia que estava vendo algo novo, fresco e com uma qualidade absurda. Foi merecidamente enaltecido à exaustão. A trilha sonora é um primor, a direção era refinada, o episódio em plano-sequência foi uma obra de arte, enfim, não existiam elogios suficientes. Era perfeita.
Mas aí veio a segunda temporada. Todos os olhares voltados para a série queridinha do momento. Um elenco fenomenal querendo fazer uma pontinha1, falar que fez parte. Muita promessa, porém, pode causar desapontamento e foi exatamente esse sentimento que tive. “Ruim não vai ser", pensei. E não foi, mesmo. Mas boa? Boa mesmo? Hmmmmm.
Manic pixie dream girl na mesa 8
Apesar de ter tido um dos melhores episódios que eu vi nos últimos anos (obviamente estou falando de Forks) e ter sido um deleite visual como sempre, esse retorno à Chicago me incomodou demais e o nome desse incômodo é Claire. Claire, o interesse romântico padrãozinho do Carmy, é tudo o que ninguém aguenta mais ver em personagens femininas - principalmente em personagens femininas que são os interesses românticos dos gênios problemáticos e - por coincidência - protagonistas.
Claire faz bingo em tudo o que aprendemos que a típica mocinha sem-graça precisa ter: traços doces, fala baixa, ausência de história individual, inexistência de diálogos que não sejam com o protagonista e o fato de ter aparecido simplesmente para ✨ ajudá-lo a resolver um problema ou a entender melhor sobre si mesmo ✨. Quem diria que 2023 traria não só o celular de flip, a cintura baixa e a franquina Pânico de volta, mas também o conceito de manic pixie dream, né?
Manic Pixie Dream Girl: nas palavras de Nathan Rabin, o crítico que cunhou o termo, é “aquela criatura cinematográfica cintilante e superficial que só existe na imaginação febril dos escritores para ensinar jovens homens profundos, cismados e sentimentais a aproveitar a vida e seus infinitos mistérios e aventuras".
Esse nome surgiu na crítica do filme Tudo Acontece em Elizabethtown. Foi assim que Rabin descreveu Claire (não a “Claire Bear” que nem sobrenome tem, mas a Claire Colburn, interpretada pela Kirsten Dunst), a personagem otimista, fofa e que surge na vida do Orlando Bloom para ajudá-lo a superar um trauma.
Depois de Claire (Colburn), tivemos várias outras manic pixies dreams notáveis: a Summer de 500 Dias com Ela, a Ramona de Scott Pilgrim e a Samantha de Garden State. Todas chatas. Todas açucaradas. Todas ridiculamente padronizadas. Todas IRREAIS e criadas por e para homens. Não por acaso, homens feios, mas isso não vem ao caso, apesar de ter achado pertinente citar. É tudo tão bobo e caricato que essa TikToker literalmente fez disso sua editoria e faz esquetes dessas personagens insuportáveis de filmes indie. Sem nenhuma coincidência, o vídeo abaixo é literalmente o primeiro encontro do Carmy com a Claire.
Enable 3rd party cookies or use another browser
O que mais me incomodou é que ter uma Claire em uma série tão atual como The Bear me pareceu anacrônico, sabe? Estamos em 2023, não é mais permitido ter esse tipo de representação boba e rasa em uma série que explora tão bem personagens femininas. Alguém precisa avisar o diretor que o feminismo não só já foi inventado como já está saindo de moda! Me pareceu um retrocesso imenso colocar Claire como uma clara oposição a Syd, que é uma personagem brutalmente real - meio chata, petulante, neurótica, extremamente talentosa, dedicada, estridente, imperfeita e incrível. Não cabe uma Claire em uma série como The Bear. Na real, não cabe uma Claire em 2023.
MPDG já tá frio, ultrapassado e apesar de insosso, é bem indigesto. Não cola mais, não.
Para ler também:
Sorry, But The Bear’s Claire Is Pure Male Fantasy, da British Vogue
Why Claire in ‘The Bear’ has sparked surprising backlash from fans, do Independent
Falando nisso…
TBT
Um texto que escrevi em 2017, sobre se perceber manic pixie dream girl.
direto do finado My Other Bag Is Chanel. IYKYK
Eu meio que estou cansada de sempre desempenhar um papel “super importante”na vida das pessoas com quem me relaciono romanticamente. É irritante como eu sempre sou a mulher que aparece na hora mais escura da vida do cara para trazer um lampejo de esperança, de tesão, ou de qualquer adjetivo que ele queira usar na hora. Ultimamente, isso vem acontecendo com bem mais frequência do que eu gostaria.
Eu sou (sempre) a gente boa que ouve as reclamações sobre o relacionamento passado, sobre as crises na carreira e que ainda dá conselhos sinceros sobre tudo isso porque realmente se importa. Eu sou a pessoa que lança o olhar compreensivo enquanto serve uma taça de vinho, ao mesmo tempo em que o cara está despejando todas as suas projeções sobre a mesa. Eu sou aquela que, involuntariamente, começa a me esforçar para atendê-las.
E é sem querer, eu juro. De verdade! Só que é mais forte que eu.
Infelizmente, eu sou aquele tipo insuportável que se envolve e quer fazer de tudo para ajudar essa pessoa que me fez sentir uma coisiquinha que seja. Quero ajudá-lo a conseguir um novo trabalho, a fazer um teste vocacional, a entender que o namoro que acabou não o fazia tão feliz assim, afinal. Eu sou a mulher que o ajuda a comprar uma toalha de banho enquanto ele choraminga sobre os bordados que a ex-esposa insistiu em levar embora na separação. Sou a pessoa que sempre ouve um "meu deus, por que eu só te conheci agora?" e que não será nada além disso.
Eu sou sempre a pessoa certa na hora errada.
É ironicamente engraçado. Eu sempre apareço para o cara superar alguma coisa - ou para ter um insight sobre si mesmo que, veja só, precisou de mim para que rolasse. Participo de longas conversas, procuro entender seus problemas. Eu me preocupo e faço de tudo pra pessoa entender que ela é alguém importante no mundo. Importante pra mim, principalmente.
E eu não consigo ser diferente.
Eu mergulho -
e às vezes, de cabeça em piscina rasa.
Quando eu gosto de alguém, eu quero que essa pessoa fique feliz. E eu tento. Se eu posso fazer algo, por que não? Só que é um pouco cansativo isso ser sempre feito por mim, preciso ser franca. Eu juro que não é egoísmo ou que "eu sou legal porque espero alguma coisa". Muito pelo contrário. É só que é meio exaustivo ser sempre a personagem bonitinha que contribui para o desenvolvimento da história do homem e só. É irritante ser a pessoa que ensinou coisas óbvias e que contribuiu para sua construção como uma pessoa melhor para que ele, finalmente, pudesse seguir em frente. Sozinho, claro.
Eu até pensei em mudar, tentar deixar de ser boazinha demais, mas, sempre que penso sobre isso, entendo que a errada não sou eu, não. Eu sou humana e sincera demais para vestir uma máscara de pessoa que não se importa. Eu me importo bastante e não consigo ser diferente. Não sei brincar de desinteresse e nem aprender as regras desse jogo em que me enfiaram.
Acho que o problema não é a(s) pessoa(s) com quem me envolvi, também (embora nos momentos de raiva eu os xingue um pouquinho). O problema principal é o tempo - e o meu parece nunca se acertar. Não basta ter química, vontade, disposição e amor se não tem esse timing. Mas olha, às vezes, timing is a bitch.
E eu sou a prova disso.
Escrevi esse texto em 2017, quando ainda tentava caber nessas narrativas bizarras de que cabia a nós, mulheres, resolver os problemas dos pobres dos homens. Depois que chutei o pau da barraca e entendi que eu não era responsável pela felicidade de ninguém, além da minha, 🌈 tudo mudou 🌈. Recomendo!
Eu estou…
Lendo: Cheguei nos 72% de A Idiota - Elif Batuman e eu posso dizer que é a pior experiência literária da minha vida. Porém, já cheguei até aqui e vou terminar essa bomba. Eu não indico, definitivamente, tudo chato chato chato, Selin não sabe se comunicar, é pretensiosa… Olha, se me derem um palanque, posso falar mal desse livro por horas.
Também estou lendo Ele, o hinário de fofocas, a catarse do pop, o A Mulher em Mim, da Britney. Ele é simples, cheio de shades e ótimo pra devorar. Acho que na próxima edição da news eu já terminei e poderemos fofocar brevemente.
→ Nesse tempo, terminei Luxúria e se eu falei bem desse livro, quero revogar cada palavra escrita. Eu esperava um hotzão gostoso e recebi uma mulher louca??? Descompensada??? Um macho médio sem nenhum carisma ou sex appeal? Pelo amor de Deus!!! Juro por Deus que terminei o livro igual esse vídeo aqui. Mona, com todo respeito…
Vendo: Terminei o ícone do Ilhados com a Sogra. Maravilhoso, constrangedor, puro suco de Brasil. Também estou terminando Jury Duty (esqueci completamente???).
E é isso. Obrigada por me ler até aqui :)
Beijos e até a próxima!
Eu estou chocada que o Joel McHalle é o chef abusivo do Carmy. Community baixou em peso em Chicago, aparentemente. Só eu não tinha percebido?