Para ler ouvindo: Chateau Lobby #4 (In C For Two Virgins)1
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Escrevo de uma travessa que dá para a praia de Jurerê Internacional. Estou sentada no canteiro, com alguns matos encostando no meu cotovelo e algumas formigas mordendo minha coxa. O motivo do completo aposto do glamour atrelado a praia é que Maria Clara dormiu no carrinho e, tão logo a gente se aproxima da rua - tomada por barulho de construções - ela começa a se remexer, ameaçando acordar. Pais zelosos (e cansados) que somos, aproveitamos a segurança da cidade badalada para trabalhar da rua. Literalmente.
O som do mar ao fundo e a tranquilidade com que minha filha respira me acalmam, mesmo que eu não esteja necessariamente nervosa. João está em pé, segurando minha bolsa para que eu escreva. Foi ele que fez a bebê dormir enquanto eu fazia uma reunião sobre um briefing bobo, em uma cafeteria da praia. Paguei R$ 35 por um café gelado. Estava bom, mas nada justifica esse valor. Mas aí lembrei que estamos em Jurerê.
Na verdade, estamos morando temporariamente em Ponta das Canas, no norte da ilha. Estamos no mesmo lugar em que viemos, João e eu, em 2021. Foi aqui que nos apaixonamos, que dissemos “eu te amo” pela primeira vez e que vivemos várias das nossas primeiras vezes: o primeiro desentendimento, o primeiro ciuminho, os primeiros defeitos descortinados, os vários apaixonamentos. Voltar aqui com nossa filha é uma sensação muito louca. É como se mostrássemos pra ela a sua origem, mesmo que não seja. “Você é porque nós fomos, filha".
Lembro que em 2021, lá naquela casinha, eu senti um amor muito grande pela pessoa com quem eu me casaria. Quando o conheci, me apaixonei imediatamente, logo no primeiro encontro. João foi o primeiro homem com quem saí depois de um relacionamento de 3 anos. Era pra ter sido só uns beijos, mas eu não soube lidar com a sensação de pertencimento que eu senti naquela pessoa. Como era possível querer tanto morar em alguém que eu mal havia conhecido? Nos casamos ali, logo no primeiro beijo. Só não sabíamos.
Depois desse primeiro encontro que foi tatuado na minha alma (e no nosso corpo, pois bregas que somos, temos uma tatuagem desse dia), ficamos apenas três dias sem nos ver. Aceitei vir passar um mês em Floripa com ele com apenas duas semanas saindo juntos. Meus amigos ficaram desesperados. “E se você quiser ir embora? Enjoar? Não quiser mais vê-lo?". Eu respondia simplesmente: “Eu volto, ué".
Voltei.
Voltei com ele.
E voltei direto para nossa casa.
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Voltamos para a casinha, em Ponta das Canas. Hoje, não temos endereço fixo. O apartamento da Vila Mariana foi entregue em outubro, quando passamos um mês na Granja Julieta. Agora, viemos nos despedir do Brasil em Floripa, esse lugar que nos marcou tanto. Maria Clara está aprendendo a andar. Foi aqui, nessa casa que foi nosso universo em setembro de 2021, que minha filha deu seus primeiros passos. Seu vocabulário aumentou expressivamente: chama as galinhas de cocó, os passarinhos de mamá, responde “miauuu” quando eu pergunto como faz o gatinho, insiste na sua maravilhosa imitação de elefante e, para nosso deleite, faz dancinhas e “u-u-u-u-a-a-a-as” quando eu pergunto “e o macaquinho?".
Nada boba, ela está apaixonada por essa vida. Vai na praia todos os dias e mesmo quando dissemos que não vamos levá-la para o mar, ela pede (“dá????” *apontando o mar*) e nos rendemos. Colocamos seus pezinhos gordos para serem banhados pelas ondas, mesmo nos dias frios porque ela não se importa. Volta feliz da vida, dando tchaus e ois para literalmente todas as pessoas que passam por ela. No aniversário dela, a Ka, a fotógrafa, nos perguntou: “como é pra vocês, introvertidos, terem uma filha extrovertida?". Eu dei risada e respondi: “é não ter a opção de não interagir com estranhos na rua". Todos os dias nós cumprimentamos um novo desconhecido.
Nossa vida está separada em pequenas malas e isso me deixa um pouco louca porque não estamos nem lá nem cá. Não são férias (os trabalhos seguem sendo entregues em seus devidos prazos, as reuniões que poderiam ser e-mails continuam roubando espaço na minha agenda e João e eu continuamos dividindo nosso tempo com uma precisão cirúrgica), mas também não-não são. Ainda não temos data de mudança, mas sabemos que será logo. Não queremos voltar para São Paulo em janeiro, mas também, não sabemos para onde ir. Pra mim, que planejo minha vida milimetricamente desde que tenho 15 anos, essas incertezas são desesperadoras. Ao mesmo tempo, também são interessantes. Depois que me tornei mãe, percebi que meus planos raramente sairão do jeito que os coloco no papel, então, por que não só aproveitar a vista? Ao menos, conseguimos manter a rotina de sono da Maria intacta.
No meio desse caos de produtos de skincare perdidos no caminho, de usar as mesmas 6 ou 7 roupas e de não gastar mais dinheiro com café superfaturado, voltei a ler no ritmo de sempre. Tirei um projeto do papel e até o Natal, terá um livro novo para vocês, naquele esquema de autopublicação na Amazon. O tema é o meu favorito: histórias de amor. Como essa, que contei aqui meio sem perceber. Voltei a fazer meu curso de escrita criativa e estou participando de um clube do livro. A vida está entrando um pouquinho nos eixos, mesmo que a minha lista de pendências pessoais continue gigante. Mesmo esperando as coisas assentarem e eu ter uma casa.
Nos últimos dois meses, tivemos 3 casas. Seria enlouquecedor se não fizéssemos de cada uma delas o nosso lar.
Coisas que eu vi e amei:
🍴 Ainda é ok falar de The Bear, né? Me deparei com esse texto sobre a jornada do Richie (cousin <3) e é a coisa mais linda. Como eu disse nessa edição da news, o episódio Forks é uma verdadeira obra de arte. Do Inside Hook.
📚 E começou a temporada de Melhores do Ano! Na Time, saiu a lista dos melhores livros de 2023 e tem vários livros que já estavam na minha lista, como Yellowface, Pageboy e The Young Man, da Annie Ernaux. Esse, no caso, não estava, mas quero ler tudo da Annie até o ano que vem, logo…
→ Falando nisso, na New Yorker saiu a lista dos Melhores Podcasts do Ano. Eu confesso que não sou muito dos podcasts, mas a quem interessar possa, segue a lista.
📖 Descobri, pela newsletter da autora Fabiane Guimarães, que um brasileiro venceu o National Book Awards. Foi Stênio Gardel, nordestino de Limoeiro do Norte, que ganhou na categoria de melhor romance traduzido com seu A Palavra Que Resta. Reverbero aqui a reflexão trazida pela Fabiola: “Se fosse um autor do Sudeste, aposto, já estaria na capa dos principais jornais, em destaque proporcional ao feito.”
💖 Eu amei e estou obcecada pela agenda e planejador de leituras da livraria Gato Sem Rabo. Um dos meus planos para 2024 é fazer um diário de leitura porque percebi que eu não me lembro de grande parte dos livros livros — e acho que um planner lindo com certeza vai me ajudar a mudar esse quadro. Ele custa R$ 189,90 e estou aceitando de presente (alou, João!)
📖 Essa edição da Revista Gama, sobre livros, está imperdível! Todas as matérias valem a leitura, mas essa aqui, com 5 dicas para conseguir terminar de ler um livro, é perfeita para quem quer colocar “ler mais” como meta para 2024.
Eu estou…
Lendo: Terminei O Clube dos Jardineiros de Fumaça, vencedor do Prêmio Jabuti de 2018, da Carol Bensimon. Uma leitura muito gostosa, daquelas que te transportam para o lugar relatado. Nada como ler mulheres. Depois, no sábado, comecei a minha obsessão, Cleópatra e Frakenstein e devo terminar hoje. Juro, esse livro (!!!). Acho que eu não gostava tanto de uma leitura desde a adolescência! Vi ele sendo vendido como uma mistura do odioso Conversas Entre Amigos e Modern Love e comprei. Coco Mellors bota Sally Rooney pra mamar2. Enfim, a próxima newsletter provavelmente será sobre ele, deixo avisado.
Vendo: Como se eu tivesse tempo livre, comecei a rever Gilmore Girls. Agora Que Sou Mãe™️, quero falar mal da Rory com outros argumentos. Esse assunto, Gilmore Gilrs, provavelmente aparecerá por aqui também.
Recados finais
✨ Para 2024, vou formatar uma programação especial para (que chic escrever isso) meus assinantes pagos — porque sim, agora você pode apoiar minha news por menos de um café do The Coffee por mês. Vem aí!
🔗 Todos os textos em cor-de-rosa são links clicáveis. Os links de livros são da minha loja na Amazon e ao comprar por eles, você paga o mesmo valor do site, mas eu ganho uma pequena porcentagem. Aqui, inclusive, separei todos os livros que li neste ano, da ordem do que mais gostei para o que menos. Quem adivinha o que está em último lugar?
a música do nosso casamento <3
eu tô brincando. Achei a Coco mais superficial que a Sally, apesar de ter preferido a escrita da loira. mas tuuuudo isso ficará para uma próxima edição.
Sempre um bálsamo pra meus olhinhos lerem esses textos maravilindos Mi.
Que história de amor mais fofa! Já ansiosa pra ler seu livro novo <3