Eu estou com 2 textos começados no Substack. Estou lendo, atualmente, 3 livros. Estou escrevendo 2 livros. Não consigo terminar nada*.
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Eu não sei vocês, mas eu adoro falar mal das coisas com propriedade. No auge do sucesso de Crepúsculo, eu me colocava em um palanque imaginário onde discursava por horas sobre o quão ruim era a saga porque, vejam só, eu tinha lido os dois primeiros livros. Por ter lido, eu tinha conhecimento de causa e eu realmente podia falar o quanto a protagonista era insuportável e mal construída porque não era um simples hate, era uma análise crítica. Essa sensação de domínio do assunto ao falar mal me deixou viciada e, quando menos percebi, ouvia álbuns que eu sabia que detestaria, via filmes que eu já sabia que seriam péssimos e, vez ou outra, lia livros que eu tinha certeza de que não me fariam feliz. Coisa de gente chata.
Numa dessas, empacada na escrita, falei “vou ler um best seller de não-ficção para entender o que as pessoas compram". Vez ou outra eu compro um desses livros para ter na prateleira e ler ou para curar uma ressaca literária ou para me inspirar de alguma forma, então, peguei o Indomável na minha estante. Comecei a ler de nariz torcido e, para minha surpresa, eu devorei o livro e fiquei extremamente inspirada para escrever.
Veja bem, não é que ele seja um livro excelente. No final das contas, é um livro de memórias de uma mulher branca, loira, classe média alta, por mais que ela tenha uma história de vida meio louca, como o fato de ser ex-viciada em drogas, aí do nada virar cristã e aí mais do nada ainda se apaixonar por uma mulher e casar com ela. O que eu quero dizer é que além disso, Indomável não tem um suuuper enredo - mas eu fiquei desesperada para ler. Marquei o livro inteiro porque os textos fáceis dela se pareciam com os meus e a sensação que tive ao ler é a mesma que alguns dos meus leitores já me disseram sentir também. Sentei na frente do computador e, quando menos percebi, escrevi 50 páginas. Vinha aí um novo livro!
Mas aí eu terminei Indomável. Comecei outro livro que não embarquei. O trabalho me engoliu. A vida aconteceu. Reli o que tinha escrito e achei tudo uma porcaria. Eu nem era tão interessante, por que estava fazendo da minha vida material para uma publicação? Desencanei. Quem sabe, um dia?
Aí eu vi um concurso da Amazon para contos juvenis. Me lembrei que eu tinha uma fanfic velha que passou por uma leitura crítica que me disse que as 150 páginas de história poderiam ser resumidas em um conto rápido e leve. Vi a data final e percebi que teria 5 dias para finalizar o documento. E aí eu vivi esses 5 dias com essa história que foi me prendendo, foi me deixando feliz, foi me absorvendo até que… Eu desencanei de novo. Perdi o prazo e decidi que publicaria o conto diretamente na Amazon. Um dia, quem sabe?
Eu poderia culpar os astros, mas depois que tive uma mentoria com a Ly Takai, percebi que muito do que me falta é autorresponsabilidade e, no meio da minha justificativa culpando o signo, pensei “não, eu não faço isso porque sou geminiana, eu faço isso porque não me comprometo com o hoje". Eu tenho imensa dificuldade em entender a jornada. Eu sou viciada em começar coisas e quero vê-las como sucesso absoluto quando enfim concluídas. Eu tenho muito problema com constância porque eu simplesmente me desinteresseo, desencano, quero mudar de profissão e de rumo quando as coisas começam a demandar esforços. Não coincidentemente, terminei muitos relacionamentos quando eles começavam a ficar difíceis, mas isso é assunto para outra newsletter.
Eu vi um post da Mariana Cyrne no Instagram que me fez pensar tanto que até vim (finalmente) finalizar essa edição. Ela fala "é aqui que plantamos. é aqui que vivemos". E o grande problema pra mim é que não é que eu não goste de plantar, eu adoro! A minha dificuldade está no que vem entre o plantio e o florescer: o cultivo. O de cuidar de pouquinho em pouquinho, dia após dia, de algo que ainda não se vê, mas se sabe.
Com uma sincronia quase ridícula, enquanto escrevia esse texto, meu marido veio me mostrar que a orquídea que ganhei quando a Maria Clara nasceu estava florescendo, 1 ano depois. Eu nem me lembrava que aquela orquídea ainda estava ali. Perguntei, incrédula: “Nossa, mas você ficou cuidando dela por um ano?", e aí ele respondeu como se fosse óbvio: “e por que não cuidaria? Olha aqui como está linda!” e estava mesmo. Igualzinha como quando eu a recebi na maternidade. Cheia, cor-de-rosa, vívida. Em pé, sob o sol, a materialização do cuidado e da paciência.
Olhando aquela flor ali, na varanda de casa, entendi que mais que precisar aprender sobre o tempo das coisas, entendi que o belo sempre nos aguardará depois de um período de cuidado, trabalho e cultivo. Ainda que árdua, longa e cansativa seja a jornada, o que é bom há de florescer.
Um dia, se sabe.
*ao menos, terminei essa newsletter!
Eu estou…
Lendo: Ainda não sei se estou lendo ou se desisti de A Idiota - Elif Batuman. Selin é uma sonsa pretensiosa, Svetlana é deslocada da sociedade, Ivan é uó… Enfim, odeio todo mundo, crime ocorre, nada acontece, feijoada. E eu já li 40% do livro!!!! Também continuo Aos Prantos no Mercado, da Michelle Zauner. Esse é maravilhoso, mas estou lendo devagar porque me deixa muito triste. De fato, muito bom. Também comecei a ler no Kindle o Sobre a terra somos belos por um instante, do Ocean Vuong. Estou muito no começo, mas estou achando bem bonito.
Vendo: Terminei And Just Like That e, quem diria, a Charlotte foi a melhor personagem da temporada. Achei essa season xoxa, manca, capenga, mas acho que pode ter sido a forma com que eu vi. Vou reassistir numa tacada e aí vou ter uma opinião formada (não que alguém realmente se importe). Começamos (marido e eu) a segunda temporada de The Bear, mas ainda não saímos do primeiro ep porque Maria acordou no meio rs, e estou vendo a nova temporada de Only Murders In The Building que apesar de contar com um elencão ainda não me pegou. Mas acho que o problema sou eu rsss