amiga, SIM. é óbvio que tem talento, trabalho duro e dedicação - mas tem muita sorte e mais privilégio ainda. quanta gente talentosa, trabalhadora e dedicada ganhando um salário mínimo existe? eu sei que posso ser um poster da meritocracia (kk câncer), mas eu só consigo pensar: como eu tive sorte de ter pais formados na faculdade, que me deram colégio particular, que tinham um cuidado absurdo quando eu tava no hospital... ter pais que se formaram (avós que se formaram nem se fala) já é um puta privilégio. imagina ter viajado de avião antes de fazer 10, 15, 18? sair do país antes dos 30? conhecer as pessoas certas desde... sempre? eu super entendo seu vórtex.
nossa ter avós que fizeram faculdade pra mim é muito inimaginável!!!
você resumiu bem com "conhecer as pessoas certas desde sempre". Não ironicamente, me pego pensando nesse assunto toda semana, para não falar todos os dias. E, realmente, se eu própria não interrompo o fluxo de pensamentos, vira um vórtex. Sinto que perto das pessoas que nasceram em um ambiente privilegiado eu estou sempre atrasada para alcancá-las, velha demais ter acesso ao que elas tiveram desde bebês ou simplesmente uma imposta em uma classe social que não é verdadeiramente minha. E junto com a isso soma-se o sentimento amargo de culpa por ter acesso à tanta coisa que minha família não teve. É muito de onde eu vim e pouco diante de tudo que meu olhar alcança agora.
eu lembro a primeira vez que conheci alguém que tinha avós formados na faculdade (já era adulta). foi um absoluto choque. nunca nem tinha passado pela minha cabeça de forma concreta - lógico que sabia que existia, mas enfim, é doido.
me identifiquei demais com seu texto! ontem mesmo tive uma conversa com minha (única) amiga de ensino médio sobre como a gente se sentia culpada em gastar dinheiro com nós mesmas, porque sempre fomos criadas com pouco, com pais que não podiam nos mimar com presentes, e agora que temos condição financeira, ainda não conseguimos enxergar que podemos sim nos agradar e acabamos se sentindo culpadas por ter lazer, comprar coisas que queremos, gastar com quem gostamos. sempre parece que aquilo "não é pra nós"...
A minha raiva de gente rica se extende à ficção. Sabe aquele filme em que um bilionário fica tetraplergico e decide fazer uma eutanásia? Não me comove. Até os 30 e poucos esse cara teve as melhores oportunidades do mundo.
Por outro lado certa vez chorei porque um moço ganhou uma bicicleta num programa de televisão. A alegria dele me comoveu. Eu t andei muito de bike a vida toda, mas recentemente tinha comprado uma moto. Então fosse eu no lugar do moço ganhando uma bicicleta, teria talvez até feito pouco caso do presente, mas ele tava lá. Felizão.
(Voltando à ficção)
Tony Stark? Não! Me trás o Homem-Aranha, que só se lasca tentando conciliar trabalho voluntário, trabalho de ganhar dinheiro, estudos, vida amorosa, e os cuidados com uma tia idosa.
Michele, eu amei demais seu texto. Me lembrou uma fala da escritora francesa Alice Zeniter sobre o acesso à arte que ela nunca teve na infância e que passou a ter depois de adulta. Até a transcrevi em uma das minhas newsletters passadas e coloco aqui tb:
“Eu pensava que as pessoas que crescem com fácil acesso à cultura tinham uma existência entrelaçada com pintura, teatro, frases sublimes... Quando tive acesso à burguesia, percebi que isso não as tocava profundamente. Era apenas uma camada superficial, uma forma de se reconhecerem entre si. A escassez cria uma relação com a arte que a burguesia nunca terá.“
Michele, senti na pele suas palavras. Estou trabalhando em um texto sobre a vergonha de ser pobre e algumas coisas que você descreveu aqui vêm a calhar. Com certeza, recomendarei esta edição nas leituras relacionadas.
Minha mãe trabalhou a vida toda como vendedora em shoppings de São Paulo e atualmente, graças a Deus, ela está trabalhando como gerente no shopping Iguatemi e eu fui visitá-la final de semana passado e acabou com meu dia! Eu sinto uma tristeza fora do normal, fico depressiva e estressada em ver como a realidade é TOTALMENTE DIFERENTE, dentro do shopping, famílias passeando e entrando em lojas de grife como Cartier ou Rolex e gastando milhões, enquanto eu e minha mãe estávamos vendo como iríamos fazer pra comprar as coisas pra janta com 20 reais kkkkkkkkk
Quando fomos embora do shopping, atravessando pro outro lado, já subiu o cheiro de esgoto entupido junto com o ponto de ônibus que estávamos esperando na chuva o nosso ônibus chegar, onde demorou 20 min e ainda passavam jogando água na gente.
Compartilho 100% esse sentimento contigo. Me fez lembrar de um dos livros da Annie Ernaux, em francês se chama La place, nao sei se em português ele ja foi traduzido. Mas ela compartilha exatamente esse sentimento de desertar a classe social a qual ela cresceu, a dificuldade de criar uma vida fora disso e a culpa que vem junto. Vale a pena a leitura!
Gostei mt do seu texto, me peguei escrevendo baldes aqui pra vc. Mas no fim, decidi que tinha pitaco demais. Deixo aqui meu sincero elogio, vc acordou em mim um antigo ranço. Obrigada. E boa sorte criando sua filha, vai ter uns desafios, mas vai ser legal tb vê-la não passar as mesmas necessidades que você, né?
Me identifico bastante. Não sei a tua idade mas quando eu fiz 32 anos eu superei tudo isso. E isso aconteceu porque estava inserida no mundo dos milionários prestando serviço que eles muito necessitavam (a de personal trainer elite). Naquele momento eu percebi que eles precisavam de mim mais do que eu deles (pelo menos na cabeça deles) eu usei isso ao meu favor. Usei meu talento e a minha expertise e fiquei de igual para igual. Eles tinham o dinheiro mas jamais alcançariam meu nível de conhecimento nesse assunto e de perfomance nos esportes e atividade física. Comecei a perceber que dinheiro não era tudo isso, por mais luxuosas que fossem suas casas, seus egos eram completamente frágeis e pequenos, era visível ver como eles invejavam a minha saúde física e agilidade mental e cognitiva. Isso me ajudou muito a entender que valor pessoal não se compra. Sobre a culpa em relação a família, entendo completamente e o que mais me ajudou foi um livro chamado “The people please - disease”!
E além da sensação de ter traído todo o movimento da sua classe apenas por conseguir pagar R$100 em um prato de nhoque num restaurante quem nem acende todas as luzes do teto, também tem a sensação de que sempre temos que nos provar; é sempre uma coisa pra aprender, o conhecimento "interclassial" nunca para!
Você tem dinheiro pra pedir uma garrafa de vinho no restaurante? Então agora vão fazer você se sentir inferior porque nunca nem viu como é servido esse tal vinho! Lembro da primeira vez que fiz isso, estava sozinha, decidi almoçar na rua dos pinheiros, lá pela Oscar Freire, pedi um ceviche porque estava um calor danado e uma taça de vinho branco (porque pesquisei que vai bem com peixe), inocente, achei que estava abalando, só não sabia que seria humilhada nos próximos 5 minutos... "Porque o garçom colocou essa mixaria na taça? Porque ele tá me encarando? Ahhh desculpa desculpa eu tenho que experimentar, tudo bem!"
obrigada por isso! tô aqui digerindo ainda, me identifiquei demais com a sua trajetória, ler esse texto fez revirar dentro de mim vários sentimentos que estavam adormecidos. uma certa revolta misturada com cansaço, mais um pingo de alivio.. sim, eu posso sentir raiva de gente rica.
amiga, SIM. é óbvio que tem talento, trabalho duro e dedicação - mas tem muita sorte e mais privilégio ainda. quanta gente talentosa, trabalhadora e dedicada ganhando um salário mínimo existe? eu sei que posso ser um poster da meritocracia (kk câncer), mas eu só consigo pensar: como eu tive sorte de ter pais formados na faculdade, que me deram colégio particular, que tinham um cuidado absurdo quando eu tava no hospital... ter pais que se formaram (avós que se formaram nem se fala) já é um puta privilégio. imagina ter viajado de avião antes de fazer 10, 15, 18? sair do país antes dos 30? conhecer as pessoas certas desde... sempre? eu super entendo seu vórtex.
ai amiga, me sinto abraçada por seu comentário <3
nossa ter avós que fizeram faculdade pra mim é muito inimaginável!!!
você resumiu bem com "conhecer as pessoas certas desde sempre". Não ironicamente, me pego pensando nesse assunto toda semana, para não falar todos os dias. E, realmente, se eu própria não interrompo o fluxo de pensamentos, vira um vórtex. Sinto que perto das pessoas que nasceram em um ambiente privilegiado eu estou sempre atrasada para alcancá-las, velha demais ter acesso ao que elas tiveram desde bebês ou simplesmente uma imposta em uma classe social que não é verdadeiramente minha. E junto com a isso soma-se o sentimento amargo de culpa por ter acesso à tanta coisa que minha família não teve. É muito de onde eu vim e pouco diante de tudo que meu olhar alcança agora.
eu lembro a primeira vez que conheci alguém que tinha avós formados na faculdade (já era adulta). foi um absoluto choque. nunca nem tinha passado pela minha cabeça de forma concreta - lógico que sabia que existia, mas enfim, é doido.
errata: uma impostora* em uma classe social que não é verdadeiramente minha
me identifiquei demais com seu texto! ontem mesmo tive uma conversa com minha (única) amiga de ensino médio sobre como a gente se sentia culpada em gastar dinheiro com nós mesmas, porque sempre fomos criadas com pouco, com pais que não podiam nos mimar com presentes, e agora que temos condição financeira, ainda não conseguimos enxergar que podemos sim nos agradar e acabamos se sentindo culpadas por ter lazer, comprar coisas que queremos, gastar com quem gostamos. sempre parece que aquilo "não é pra nós"...
é uma sensação que nunca nos abandona, né? sinta-se abraçada <3
Eu tenho raiva de gente rica que tem mau gosto. Se ostentar a cafonice piora.
Do tipo que tem dinheiro para construir uma casa linda e compra um imóvel horrendo desde que tenha 300 quartos.
Ou então pode se vestir bem, investir no estilo próprio, mas usa roupa feia e faz harmonização facial pra parecer 50 anos mais jovem.
Pior ainda: pode viajar o mundo inteiro e vive parasitando nos Estados Unidos, no mesmo lugar de sempre.
Eu devo ser uma pessoa meio ruim mas quero deixar meu depoimento 😂
HAHAHAH aqui nós lemos e não julgamos! 🫂
A minha raiva de gente rica se extende à ficção. Sabe aquele filme em que um bilionário fica tetraplergico e decide fazer uma eutanásia? Não me comove. Até os 30 e poucos esse cara teve as melhores oportunidades do mundo.
Por outro lado certa vez chorei porque um moço ganhou uma bicicleta num programa de televisão. A alegria dele me comoveu. Eu t andei muito de bike a vida toda, mas recentemente tinha comprado uma moto. Então fosse eu no lugar do moço ganhando uma bicicleta, teria talvez até feito pouco caso do presente, mas ele tava lá. Felizão.
(Voltando à ficção)
Tony Stark? Não! Me trás o Homem-Aranha, que só se lasca tentando conciliar trabalho voluntário, trabalho de ganhar dinheiro, estudos, vida amorosa, e os cuidados com uma tia idosa.
hahahahah ÓTIMOS EXEMPLOS! (mas confesso que sempre fui Starkete :/ hahaha)
Que texto bom e triste e sincero e envolvente e revelador
obrigada <3
até que enfim, alguém falou sobre isso!
obrigada por isso, marcela! é um tema tão espinhoso que suei frio ao publicar haha
imagino! por isso nunca o abordei.
Ah Michele, acho que finalmente descobri o que sinto quando estou nesses ambientes de " granfinos".
hahaha estamos juntos!
Michele, eu amei demais seu texto. Me lembrou uma fala da escritora francesa Alice Zeniter sobre o acesso à arte que ela nunca teve na infância e que passou a ter depois de adulta. Até a transcrevi em uma das minhas newsletters passadas e coloco aqui tb:
“Eu pensava que as pessoas que crescem com fácil acesso à cultura tinham uma existência entrelaçada com pintura, teatro, frases sublimes... Quando tive acesso à burguesia, percebi que isso não as tocava profundamente. Era apenas uma camada superficial, uma forma de se reconhecerem entre si. A escassez cria uma relação com a arte que a burguesia nunca terá.“
Michele, senti na pele suas palavras. Estou trabalhando em um texto sobre a vergonha de ser pobre e algumas coisas que você descreveu aqui vêm a calhar. Com certeza, recomendarei esta edição nas leituras relacionadas.
Me identifiquei demais com o texto!
Minha mãe trabalhou a vida toda como vendedora em shoppings de São Paulo e atualmente, graças a Deus, ela está trabalhando como gerente no shopping Iguatemi e eu fui visitá-la final de semana passado e acabou com meu dia! Eu sinto uma tristeza fora do normal, fico depressiva e estressada em ver como a realidade é TOTALMENTE DIFERENTE, dentro do shopping, famílias passeando e entrando em lojas de grife como Cartier ou Rolex e gastando milhões, enquanto eu e minha mãe estávamos vendo como iríamos fazer pra comprar as coisas pra janta com 20 reais kkkkkkkkk
Quando fomos embora do shopping, atravessando pro outro lado, já subiu o cheiro de esgoto entupido junto com o ponto de ônibus que estávamos esperando na chuva o nosso ônibus chegar, onde demorou 20 min e ainda passavam jogando água na gente.
Compartilho 100% esse sentimento contigo. Me fez lembrar de um dos livros da Annie Ernaux, em francês se chama La place, nao sei se em português ele ja foi traduzido. Mas ela compartilha exatamente esse sentimento de desertar a classe social a qual ela cresceu, a dificuldade de criar uma vida fora disso e a culpa que vem junto. Vale a pena a leitura!
Gostei mt do seu texto, me peguei escrevendo baldes aqui pra vc. Mas no fim, decidi que tinha pitaco demais. Deixo aqui meu sincero elogio, vc acordou em mim um antigo ranço. Obrigada. E boa sorte criando sua filha, vai ter uns desafios, mas vai ser legal tb vê-la não passar as mesmas necessidades que você, né?
Sou seu texto. Já tentei colocar em palavras, mas só a gente sabe o tanto que não pode ser dito.
https://chandlerbensberg.substack.com/p/pobre-gente-rica
Me identifico bastante. Não sei a tua idade mas quando eu fiz 32 anos eu superei tudo isso. E isso aconteceu porque estava inserida no mundo dos milionários prestando serviço que eles muito necessitavam (a de personal trainer elite). Naquele momento eu percebi que eles precisavam de mim mais do que eu deles (pelo menos na cabeça deles) eu usei isso ao meu favor. Usei meu talento e a minha expertise e fiquei de igual para igual. Eles tinham o dinheiro mas jamais alcançariam meu nível de conhecimento nesse assunto e de perfomance nos esportes e atividade física. Comecei a perceber que dinheiro não era tudo isso, por mais luxuosas que fossem suas casas, seus egos eram completamente frágeis e pequenos, era visível ver como eles invejavam a minha saúde física e agilidade mental e cognitiva. Isso me ajudou muito a entender que valor pessoal não se compra. Sobre a culpa em relação a família, entendo completamente e o que mais me ajudou foi um livro chamado “The people please - disease”!
E além da sensação de ter traído todo o movimento da sua classe apenas por conseguir pagar R$100 em um prato de nhoque num restaurante quem nem acende todas as luzes do teto, também tem a sensação de que sempre temos que nos provar; é sempre uma coisa pra aprender, o conhecimento "interclassial" nunca para!
Você tem dinheiro pra pedir uma garrafa de vinho no restaurante? Então agora vão fazer você se sentir inferior porque nunca nem viu como é servido esse tal vinho! Lembro da primeira vez que fiz isso, estava sozinha, decidi almoçar na rua dos pinheiros, lá pela Oscar Freire, pedi um ceviche porque estava um calor danado e uma taça de vinho branco (porque pesquisei que vai bem com peixe), inocente, achei que estava abalando, só não sabia que seria humilhada nos próximos 5 minutos... "Porque o garçom colocou essa mixaria na taça? Porque ele tá me encarando? Ahhh desculpa desculpa eu tenho que experimentar, tudo bem!"
obrigada por isso! tô aqui digerindo ainda, me identifiquei demais com a sua trajetória, ler esse texto fez revirar dentro de mim vários sentimentos que estavam adormecidos. uma certa revolta misturada com cansaço, mais um pingo de alivio.. sim, eu posso sentir raiva de gente rica.