Sobre o antes de amanhecer
Um conto na íntegra, o link para download e uma playlist especial <3
Para ler ouvindo: Alvorada, Cartola.
Hoje eu faço 2 anos de casada1 e todo o processo de organização desse livro, bem como a coragem de publicá-lo, veio com a entrada do João na minha vida. Sempre digo que é um privilégio viver a minha história de amor favorita e por isso, por conta dessa data, decidi lançar gratuitamente o Antes de Amanhecer e, também, compartilhar o nosso primeiro encontro, que é a crônica que encerra esse livro. Espero que gostem desse relato e que se deixem apaixonar pelos outros que preenchem as páginas desse livrinho que foi o começo da minha vida editorial2.
8. Alvoradas
O único conto não-ficcionalizado do livro e que relata o encontro mais importante da minha vida.
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Na noite em que eu o conheci, pensei em cancelar nosso encontro pelo menos 3x durante o dia. Fazia anos que eu não tinha um primeiro encontro, então acordei cedo, aflita e ansiosa. Eu queria ir, mais do que qualquer outra coisa na vida, mas também não queria ir porque todo aquele frio na barriga me lembrava do quão vulnerável eu ainda podia ser. Poucas coisas chocam mais que nossa própria vulnerabilidade. Entendi que não teria a menor condição de viver aquele dia esperando às 20h e pensando em tudo o que poderia dar errado até lá, então, fui trabalhar na casa de um amigo antes do almoço e encontrar com outro, log depois. Organizei um dia propositalmente cheio para que eu não pensasse demais na minha noite.
Ainda cheia de dúvidas, mostrei o perfil do Instagram do João, que havia acabado de postar uma foto saindo da natação, para meu amigo do turno da manhã. Eu não precisava de nenhum aprovação sobre o quão bonito e interessante ele era porque isso era óbvio, afinal, marcamos um encontro e eu não o teria feito se não me interessasse. Mas eu buscava um motivo para não ir. Ao mostrar o perfil dele ao meu amigo, acreditava que ouviria um "é, está cedo, melhor deixar para outro dia". Porém, sem nenhuma surpresa, Angelo me disse: "vai, ele é uma delicinha".
Voltei para a casa antes de me encontrar com meu outro amigo. Tomei um banho longo, daqueles em que você imagina cenários, discursos e resoluções de brigas que aconteceram há 15 anos, e troquei e destroquei de roupa incontáveis vezes até chegar no look final. Eu queria algo que passasse a exata mensagem de que eu estava muito bem arrumada, mas que também era gostosa, então optei por uma camisa listrada azul, uma saia de couro preto e uma ankle boot branca. Peguei minhas maquiagens favoritas, coloquei na ecobag da livraria do Copan junto com meu computador, e assim fui para um café esperar pelo meu amigo do turno da tarde, que me distrairia até às 20h. Quando Oda, meu amigo, chegou, prontamente perguntei para ele, após resumir toda a história em 15 segundos:
"Não é muito cedo? Você acha mesmo que eu deva ir?".
Felizmente, ele também me incentivou: "Se você quer ir, não é cedo. E você quer que eu sei". Definitivamente, eu queria.
Olhei o endereço - estava na Haddock Lobo e encontraria João na Vila Madalena - e quanto tempo levaria de Uber. De novo, senti meu coração acelerar e o estômago se encher de cubos de gelos. Era aquela sensação que às vezes precede algo incrível, mas que às vezes também é o início de um ataque de pânico e, sem imaginar que estava indo conhecer o homem da minha vida, pensei que estivesse mais inclinada ao pânico. Paralizada pelo medo de conhecer uma nova pessoa e de, pior, essa nova pessoa me conhecer também, comecei a digitar a mensagem de cancelamento.
"Oi, então… Me enrolei no trabalho e…" seria o início. Porém, naquele exato segundo, de um jeito ridiculamente sincronizado, João me mandou: "Estou aqui. Cheguei cedo, eu sei, então não se preocupe em vir correndo". Ele havia chegado com uma hora de antecedência para não atrasar e apesar de ter achado incrível essa visível ansiedade para nosso encontro, fiquei mortificada pela impossibilidade de cancelar. Olhei o relógio, vi que ainda teria tempo para me maquiar (e tomar mais uma mimosa) com calma. Respirei fundo e por fim, com um frio quase crônico na barriga e pedindo por palavras de afirmação do meu amigo, chamei o Uber. Oda me desejou boa sorte e eu entrei no carro com as mãos suando de nervoso - não parecia nem de longe a mulher que já tinha escrito um livro sobre dates do Tinder e que os fazia como quem comprava pão no sábado de manhã. Talvez eu já soubesse que aquele encontro seria diferente de todos os outros.
Ninguém te prepara para conhecer a pessoa com quem você vai casar, afinal.
O bar ficava no subsolo. Quando cheguei, mandei uma mensagem avisando que já estava lá e ele me falou para descer as escadas. Fui segurando no corrimão com toda a força e cuidado do mundo porque eu estava de salto e tremia como se estivesse prestes a desmaiar. "Não cai, não cai, não cai…" eu pedia a mim mesma. Abri a porta pesada do bar que tinha uma iluminação avermelhada bem baixa. Olhei para a esquerda, um casal. Olhei para a direita e pronto, ali estava. Assim que ele me viu, se levantou e eu pensei que fosse derreter. Digo isso literalmente: senti que meu corpo inteiro estava derretendo e que eu deslizaria até lá. Fui caminhando lentamente ("não cai, não cai, não cai…") e o cumprimentei com um beijinho no rosto e um abraço meio desajeitado. Nos sentamos lado a lado e, como eu tremia visivelmente, decidi assumir. "Tô nervosa hehe tô até tremendo, olha" e mostrei minha mão trêmula. Ele deu risada e, ao ver seu sorriso, me senti estranhamente mais calma. Hoje eu sei que eu me senti em casa.
Conversamos sobre absolutamente tudo. Sobre relacionamentos, sobre nossos pais, sobre futuro e sobre sonhos. Sobre o que queríamos da vida, sobre trabalho, sobre filhos, sobre nós. Foi um primeiro encontro perfeito e sabíamos disso. Sabíamos que ele se tornaria uma lembrança. Quando demos o primeiro beijo, eu pude ver uma versão eufórica e tagarela de mim mesma me olhando, apontando e gritando: "É ISSO. É ISSO o que você quer sentir e que você tanto buscou! É ISSO!". Naquela noite eu não sabia o que era isso. Hoje eu sei que era amor.
Mais dois drinks depois do primeiro e após vários outros beijos, tive uma crise de enxaqueca. Talvez pelo excesso de preocupação e ansiedade durante o dia, ou pela quantidade de drinks ingeridos para contornar a timidez, tive uma crise que tentei ignorar o máximo possível, mas acho que chegou em um ponto que eu deveria estar com apenas 15% dos meus olhos abertos porque João percebeu, me abraçou e pediu a conta. Ele pagou e falou "a próxima é você", o que achei extremamente fofo. Ali ele já deixava claro que teria uma próxima vez e, de alguma forma, eu sabia que não era papo: aquele havia sido apenas o nosso primeiro encontro.
Dividimos o Uber. Ele estava a no máximo 10 minutos do bar, mas colocou minha casa - no centro - como primeira parada e me acompanhou até lá. Estava difícil para eu manter a conversa por causa da dor, mas tentei por que queríamos aproveitar cada um daqueles minutos que antecediam nossa despedida. Quando o carro parou na frente do meu prédio e nos beijamos, mesmo com uma dor lancinante, eu entrei flutuando em casa. Fazia tempo que não me sentia tão bem. Fazia tempo que não sentia aquilo.
*
Naquele dia, devo ter trocado apenas quatro mensagens com ele. Uma confirmando o encontro, outra combinando o horário, mais uma quando eu estava à caminho e a última avisando que havia chegado. Mas eu digitei e redigitei uma mensagem cancelando o encontro umas nove vezes. Eu não sei bem se acredito em Deus, em entidades, no movimento dos planetas, na sorte ou no destino, mas nesse dia, ao chegar em casa, eu agradeci a todos eles. A cada entidade. A cada deus de cada crença existente. Agradeci aos astros, ao movimento da Vênus, à minha intuição. Agradeci ao universo e a cada parte do meu ser por não terem me deixado cancelar aquele encontro porque o que era pra ter sido um amor de uma noite, virou um encontro de uma vida.
Baixe agora Antes de Amanhecer:
Finalmente, depois de um dia inteiro ajustando todos os detalhes e da Amazon me pedir mais 3847 horas para ativar a promoção de livro gratuito, eis o link de download para Antes de Amanhecer: histórias de amor que se transformam na alvorada. Você pode baixar diretamente no Kindle Unlimited pelo seu kindle, pelo app no celular ou, também, ler online com sua conta da Amazon.
E para entrar 100% no clima do livro, fiz uma playlist com todas as músicas citadas nos contos. Tem para todo gosto e todo mood, de clássicos dos anos 90 a brega clássico brasileiro. Pegue os fones de ouvido, aumente o volume e vem comigo. <3
E é isso! Até o dia 8/3 o livro ficará gratuito e vou adorar saber qual foi o conto favorito de vocês. A única coisa que peço em troca é a avaliação e uma review na Amazon (e no Goodreads, por que não? rs) para me ajudar a chegar em mais pessoas. Obrigada pela leitura e interesse 🤍 é sempre uma honra ter vocês por aqui comigo.
Nos vemos na próxima news e com mais novidades.
Um beijo,
MIchele.
meu deus como eu vim parar aqui eu só tenho 6 anos? Ainda é muito louco pensar que eu sou uma mulher casada porque até ontem eu estava fazendo cronicazinha de amor adolescente. tudo passa rápido demais, céloco.
Na Apresentação do livro você vai entender melhor mas, basicamente, todos os contos de Antes de Amanhecer entrariam originalmente no projeto de Amores Eternos de um Dia, mas ficaram de fora no último corte de edição.
Miiih q história mais fofa!!!
Vou te falar uma coisa, eu nos meus 41 anos, após um relacionamento de 11 anos ter acabado, estou tentando entender se consigo usar os "tinders" da vida para encontrar um novo amor ou se me assumo como a velha dos gatos e boa.
Fui encontrar uma pessoa até agora e achei TÃO estranho. Eu nunca vivi isso afinal, sou da época pré apps ainda. Vc tá precisando fazer uma versão do seu primeiro livro só que pra pessoas mais velhas hehehe, seria muito útil.