Sobre sentir culpa por ficar triste
E o peso de sentir algo tão humano e uma lista de filmes pra chorar de verdade
Desde que me tornei mãe, sinto uma culpa enorme quando fico triste. Às vezes essa tristeza infinita vem do nada e me invade e me inunda de um jeito que, quando vi, já estou respirando pesado e não querendo nada além de deitar e existir da forma mais despercebida possível. Não existe exatamente um motivo para essa tristeza surgir.
Tem dias em que ela vem enquanto eu estou escrevendo um texto e preciso pesquisar sobre, sei lá, bordões de streamers de jogos de futebol. Do nada, mesmo. Em outros, ela surge quando eu estou colocando minha filha pra dormir às 18h30 e planejando tudo o que vou fazer naquelas tão sonhadas 3 horas livres. Tem vezes em que ela chega ao ver a vida perfeita de todas as outras pessoas que não moram na mesma casa que eu. Às vezes ela vem depois de comer um chocolate, quem diria.
Enfim, não tem muito bem um padrão, mas a tristeza existe e aparece sempre. O problema é que eu não sei mais abraçar esse sentimento como fazia antes. Agora que sou mãe, sinto que eu não tenho motivos para ficar triste. Pior ainda: sinto que eu não posso deixá-la ficar.
02/04/23 - 18h29 - das minhas notas do celular
Às vezes me sinto culpada por ficar triste. Mas fico. Tem dias cinzas em que só quero me jogar, sim, na tristeza e deixar que ela me abrace, me impeça de trocar de roupa ou de sorrir. Tem dias, acontece. Mas depois que a Maria nasceu eu me sinto culpada. Como assim eu estou triste tendo esse sorriso? Ouvindo essa gargalhada? Tem dias tristes. Os meus são intensos, mas antes eles só doíam, não me deixavam culpada. Não existia essa sensação de “eu deveria estar ali pra ela, em vez de querer estar deitada enrolada na coberta”. Ou “eu deveria estar brincando”, em vez de só querer desaparecer. Tem dias assim. Percebo que com a maternidade, casamento e etc, acolher minha tristeza ficou difícil. Parece errado, sabe? Sinto falta de acolher meus sentimentos nesses dias em que eles transbordam o copo meio vazio.
Todo mundo está medicando seus anseios
Quando eu começo a ficar triste, abre uma pop-up na minha cabeça enumerando os motivos que não permitem me deixar triste. 1) eu tenho uma bebê saudável, linda, divertida, perfeita e etc. 2) meu marido é um pai incrível. 3) eu tenho muita ajuda. 4) eu tenho trabalho. 5) eu vivo de escrever. Viu? Eu não tenho motivos para me entristecer, ou seja, eu não posso ficar triste.
E isso me deixa mais triste ainda.
Percebi, no entanto, que (querer) evitar a tristeza não vem sendo exclusividade do meu maternar. Dia desses um amigo confessou estar triste e ter ficado ainda mais triste por estar triste (!) O motivo era que, na cabeça dele, todo o progresso que vinha fazendo em vida, seja na vida profissional ou nos avanços relacionados a saúde mental, não eram reais se ele continuava se sentindo triste. Boa de conselho que sou, disse que tá tudo bem sentir. “Amanhã é sempre um novo dia.”
Outra vez, conversando sobre relacionamentos com uma amiga, estávamos falando sobre como novas paixões às vezes nos tiravam o chão e como, para algumas pessoas, essas sensações extremas, ainda que boas, pareciam aversivas. Ela usou uma frase que me marcou muito: “quantas vezes será qua a gente já não remediou nossos amores?” e essa pergunta sempre volta a ecoar na minha cabeça porque, sentida a tristeza relatada no começo do texto, a primeira coisa que pensei foi: “preciso fazer algo para não sentir isso". E por que?
Quando foi que a gente bagunçou tanto o significado das coisas que passamos a entender que se isentar não sentir é o mesmo que se proteger?
*
Nesses últimos dias estive muito triste. Mas passava. Passava quando João fazia um café cedinho; passava quado Maria fazia barulho de porquinho; passava quando eu recebia uma mensagem de alguém que gosto. Essas tristezas sempre vem. Não ficam. Felizmente, vão embora com o fechar dos meus olhos.
Amanhã é um novo dia.
Lista de filmes para chorar horrores
Uma vez, fui anotando em uma lista particular filmes que me fizessem chorar depois de um longo período sem conseguir derramar nenhuma lágrima. Resultou numa seleção afiada que vai fazer até mesmo o mais medicado dos mortais se debulhar em lágrimas.
Juste la fin du monde (da foto)
Depois me contem o que acharam dessa seleção do fim do mundo.
Eu estou…
Lendo: Ainda estou lendo A Idiota - Elif Batuman? Acho que sim? A verdade é que agora que ela chegou em Paris (51% do livro) eu acredito que esteja pegando o tal Humor & Piadas® do livro e, neste caso, achando menos irritante. Mas ainda assim, não precisava (realmente, não precisava) de tudo isso pra gente chegar até aqui. É como se eu estivesse ouvindo a minha amiga mais prolixa, com TDAH, depois de fumar maconha e tomar um drink, me contando sobre a última viagem. É insuportavelmente longo.
Também estou lendo o babado que é Luxúria - Raven Leilani. Lembro que ele foi bem hypado na minha bolha, comprei porque achei a capa belérrima e deixei na prateleira para “um dia". O dia chegou e é o bafo. Passei da metade rapidinho (dá vontade, né A Idiota?), e estou lendo em doses homeopáticas para não acabar logo. Um hotzão chique, politizado, bem construído… Tudo o que mulher inteligentes e safadas pediram.
Vendo: Terminando The Bear e a próxima edição dessa news vai ser sobre a Claire e sobre como ter uma Claire numa série dessa é um negócio inaceitável (mas que bom que temos o Richie); estou encantada com Jury Duty e o cristal do Ronald. Como pode existir um ser humano tão precioso?????; estou terminando Only Murders In The Building e, bem, não fosse o elenco primoroso, teria sido um flop. To feliz porque semana que vem é o último episódio.
Também estou planejando ver Sex Education, mas ainda estou com preguiça. E vocês?
Recados finais:
Na newsletter passada eu prometi enviar a resenha que fiz sobre Meu Ano de Descanso e Relaxamento e pessoas incríveis me disseram que queriam ler, sim! Vou enviar ainda essa semana (mentira, na próxima) do jeitinho que vocês merecem: revisada, bem-escrita e com links legais. Me desculpem a demora. <3
Daqui duas (!) semanas (!) minha filha (!) faz UM ANO (!) Vocês têm noção disso? Eu sou mãe há UM ANO!!!!11111 o tempo é muito louco, gente. Vamos viver tudo o que há pra viver vamos nos permitir antes que a gente acabe em suor.
Compartilhei aqui um áudio real, de uma conversa real, com um amigo real. O nítido cansaço na minha voz é apenas mais uma fiel prova do quão honesta eu sou aqui. Felizmente, sou escritora e não podcaster.
Nos vemos em breve <3