A minha memória mais antiga é do meu aniversário dos dois anos. Eu estava do lado da enorme caixa de som do meu pai, cuja altura era maior que a minha, vestida com uma calça bufante e uma tiara com estampa florida. Minha festa era da Branca de Neve e, teoricamente, eu estava vestida como uma versão mais camponesa e moderna da mesma. A decoração havia sido feita pela minha mãe: ela quem cortou todas as placas de isopor, pintou os personagens, colou os papéis crepom ao redor da mesa e montou cada único detalhe. Da decoração, confesso, não me lembro de muita coisa. Mas lembro da edícula, da roupa e de como me sentia naquele dia.
A memória é nebulosa, é claro, mas eis o que eu me lembro: meus pais brigavam enquanto eu estava já pronta para a minha festa. Não sei o porquê ou quais palavras foram ditas, só me lembro de uma sensação de peito apertado. A primeira memória da minha vida é uma briga familiar.
É claro que essa memória é contestável, mas ainda assim, para todos os efeitos, ela é a minha primeira. Talvez por isso o aniversário de 2 anos da minha filha carregava, de alguma forma, um pouco desse peso -
o de ser a primeira memória dela.
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